Temos a 2.ª taxa mais alta de contratos a prazo involuntários

65% do total dos recrutamentos efectuados em Portugal em 2012 foram "trabalhos temporários involuntários", a segunda percentagem mais alta em toda a União Europeia, a seguir à Espanha.

Esta é uma das principais conclusões para o nosso país que se podem retirar do relatório europeu sobre vagas e recrutamento de 2014, ontem divulgado pela Comissão Europeia, e que analisa a evolução de um conjunto de indicadores entre 2008 e 2013.

"Ambos os países [Portugal e Espanha] partiram de uma posição relativamente alta, com a percentagem de contratos a termo involuntários a crescer de 70% para 80% em Espanha e de 57% para 65% em Portugal, entre 2008 e 2012", revela o relatório da Comissão, salientando que têm "de longe" as maiores percentagens de toda a União Europeia.

A Itália e a República Checa são os países que se seguem, mas com apenas 50% do total das contratações. A Grécia aparece a seguir, com 47%. Na UE (a 27), a percentagem subiu de 31% em 2008 para 35% em 2012. O relatório refere que o peso dos contratos a prazo involuntários subiu em todos os países excepto em dois: Áustria (5%) e Alemanha (10%). "Até países com mercados laborais mais flexíveis (como a Dinamarca e o Reino Unido) registaram acréscimos significativos", salienta o documento.

26% DE EMPREGOS EM PART-TIME O relatório aponta desde logo para o grande declínio das contratações com um vínculo a tempo inteiro na União Europeia durante o primeiro trimestre de 2008 e o terceiro de 2013. Já os contratos temporários registaram um crescimento "relativamente pequeno" neste período: 4 pontos percentuais entre 2008 e 2012.

Em Portugal, o aumento ficou abaixo da média da UE, tendo passado de 23% para 26% no período em análise. Aliás, entre os países mais afectados pela crise económica registaram-se variações significativas, o que leva a Comissão a concluir que "a análise dos níveis de trabalho em part-time por si só pode não ser um indicador fiável de como as relações de emprego se alteraram durante a crise nos diferentes países". Isto porque na Itália a percentagem passou de 13% para 24% e em Chipre de 23% para 37%, mas na Grécia o aumento foi de só de um ponto (de 10% para 11%) e em Portugal de apenas três pontos. Nos estados-membros menos afectados pela crise económica a subida também foi "modesta", como no caso da Áustria (de 27% para 29%) e da Alemanha (24% para 29%).

O indicador mais claro sobre como a crise afectou o recrutamento é o relativo aos números das pessoas que foram contratadas temporariamente mas preferiam ter tido um trabalho a tempo inteiro. Neste capítulo, o relatório diz-nos que foram 16% do total das contratações e metade dos recrutamentos em part-time em toda a UE. Portugal aparece no quarto lugar com a percentagem mais elevada da UE, com 18%. Uma taxa só superada por Espanha (30%), Itália (25%) e Irlanda (22%). Na Grécia foi 16%.

As principais conclusões que a Comissão Europeia retira do relatório são que "os trabalhadores pouco qualificados enfrentam cada vez mais dificuldades em encontrar emprego, deparam-se com uma menor estabilidade laboral e são suplantados por trabalhadores com qualificações intermédias mesmo em profissões elementares".

Bruxelas destaca ainda, em contrapartida, que "as oportunidades de emprego estão a aumentar em algumas profissões altamente qualificadas". Face às conclusões do relatório, a Comissão defende a necessidade de um "maior apoio à transição escola-emprego, por forma a diminuir a segmentação dos mercados de trabalho e melhorar as competências dos candidatos a emprego, em especial os menos qualificados".