Só em Lisboa 40 pessoas pediram ajuda à Cáritas para pagar a renda

Instituições começam a não ter capacidade para responder a tantos pedidos
Desde o início do ano, só a Cáritas Diocesana de Lisboa recebeu 39 pedidos de ajuda para proceder ao pagamento de rendas em atraso. Já na de Setúbal, metade das verbas atribuídas no âmbito do Fundo Social Solidário tiveram exactamente o mesmo destino. No terreno são cada vez mais os pedidos de ajuda de quem teme ficar na rua por não pagar a renda.

O problema é que as instituições de solidariedade social têm cada vez mais dificuldades em apoiar todos os pedidos. Na véspera do conselho geral da Cáritas Portugal, o presidente da instituição traça um cenário negro. “Só não estamos a dar mais apoio porque já não temos capacidade para ajudar mais pessoas”, defende Eugénio Fonseca. Até final de Outubro, a Caritas Diocesana de Lisboa, por exemplo, recebeu 474 pedidos de ajuda. Mais 177 pedidos do que no mesmo período de 2010.

Recorde- se, por exemplo, que durante o primeiro ano de existência do Fundo Social Solidário – criado pela associação por orientação da Comissão Episcopal da Pastoral Social – dos 1384 apoios aprovados no âmbito do fundo 480 foram referentes ao pagamento de rendas. O que correspondeu a cerca de 34,68% do total de transferências aprovadas. No caso da Cáritas Diocesana de Setúbal, refere fonte da instituição, “metade das verbas atribuídas no âmbito do fundo são para rendas”.

Só hoje a instituição terá maior noção da realidade no terreno, quando forem apresentados os resultados do Núcleo de Observação Social e os resultados da evolução dos atendimentos sociais nas Cáritas Diocesanas.
“O que sabemos é que a situação no terreno se está a agravar”, salienta Eugénio Fonseca, deixando, no entanto, um receio de que os números obtidos acabem por “desmentir” esta percepção das instituições. “Receio que não se note uma grande diferença nos números porque a Cáritas já não tem capacidade para ajudar mais pessoas”, explica.

O presidente da associação diz ter noção que “não se vai conseguir ajudar toda a gente” e, também por isso, admite que “há já pessoas em lista de espera para serem ajudadas”. No Conselho Geral, que se realiza este fim- de- semana em Fátima, a estrutura central vai “tentar saber quantas pessoas é que são efectivamente ajudadas”, adianta Eugénio Fonseca.

Mas as dificuldades não se limitam apenas à Cáritas. No caso da Assistência Médica Internacional ( AMI), só no primeiro semestre do ano foram recebidos 9283 pedidos de auxílio. João Baptista, da Acção Social da AMI, explica que “até final de Outubro foram já ultrapassados todos os pedidos recebidos durante o ano de 2010”. “São pessoas que nos procuram por situações de desemprego, com empregos precários ou devido à perda de subsídios sociais, como o Rendimento Social de Inserção”, salienta ainda João Baptista.

Já Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas ( UMP), conta que “as pessoas acabam por não procurar as misericórdias para pedir ajuda para pagar a renda, porque têm noção de que estas também não têm capacidade para ajudar a esse nível”. Segundo as estimativas da UMP, há actualmente cerca de 900 mil pessoas ajudadas por estas instituições. “O ano passado eram cerca de 700 mil”, diz Manuel Lemos.

Os principais pedidos de ajuda, frisa o presidente da UMP, “referem- se a pedidos de alimentação e compra de medicamentos”. E, por isso, sublinha, as misericórdias portuguesas continuam “a abrir mais cantinas e a reforçar as que já existem no terreno”.