Santa Casa divulga hoje resultado do diagnóstico da população sem abrigo na capital

Um médico, um piloto ou engenheiros estão entre os licenciados identificados a viver na rua, no âmbito de um projecto que visa contribuir para o debate das necessidades e políticas de integração e apoio a esta população.

Os resultados da iniciativa, que serão apresentados hoje pelas 17 horas, resultam de inquéritos a 454 sem-abrigo entre os cerca de 700 contabilizados. Os trabalhos no terreno culminaram em Dezembro numa contagem de sem-abrigo numa única noite, para verificar se a população abrangida pelos inquéritos se aproximava do número de pessoas a viver na rua ou em abrigos, uma vez que os locais de pernoita variam com frequência e a equipa quis garantir a fidelidade do retrato.

Segundo dados a que o i teve acesso, na contagem de 12 de Dezembro, que mobilizou 800 voluntários, foram sinalizados 509 sem-abrigo na rua. Na fase de levantamento de locais de pernoita e inquéritos, a maioria anónimos, obtiveram-se 454 respostas, que permitiram uma caracterização do contexto familiar, pessoal e socioeconómico desta população, mas também sinalizar às entidades competentes um conjunto de casos. Entre esses estavam situações de ausência de identificação pessoal, como cartão de cidadão, a necessidade de apoios de saúde por vezes urgentes, ajudas sociais ou auxílio para regressar ao país de origem.

A identificação de um grupo significativo de pessoas com formação superior em situação de sem-abrigo foi uma das conclusões mais surpreendentes. No extremo oposto, cerca de 8% dos inquiridos admitiram não saber ler nem escrever. A maioria já tinha passado por um centro de abrigo, mas muitos contaram ter deixado de recorrer a estes apoios por não se adaptarem às regras ou por queixas sobre a qualidade dos mesmos. A relação com as equipas de apoio ou o acesso a serviços foram outras temáticas aprofundadas, nomeadamente a importância dada a instituições de distribuição de alimentos ou o acesso e carências ao nível da saúde.

A maioria dos inquiridos são de nacionalidade portuguesa, sexo masculino e solteiros. Um dos maiores tempos registados na rua foi de 37 anos e o mínimo de um dia.

Os resultados completos do projecto vão ser apresentados por Rita Valadas, administradora da Santa Casa para a Acção Social, e por João Marrana, coordenador do programa, com o comentário do sociólogo Paulo Ferreira. A iniciativa da Santa Casa, que replicou um modelo de sinalização e diagnóstico de idosos em risco promovido em 2012, contou com o apoio da câmara, freguesias, paróquias e associações.