Procura pelo arrendamento ao nível mais elevado em dois anos

70% das pessoas que procuram casa para arrendar pretende imóveis com rendas até 500 euros.
É mais um sinal a comprovar que os efeitos da austeridade já se fazem sentir nas famílias. Segundo os dados do último estudo da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), divulgado esta semana, a procura de casas para arrendar atingiu em Setembro o nível mais elevado dos últimos dois anos. Segundo a mesma associação, cerca de 32% das pesquisas efectuadas no portal CasaYES, referem-se à procura de casas para arrendar. O valor aumenta para perto de 40% quando analisadas as pesquisas feitas nos distritos mais metropolitanos.

Os números não são surpreendentes para a associação que representa as agências imobiliárias, até porque a tendência de aumento de procura pelo arrendamento tem-se sentido de forma consecutiva nos últimos sete meses. Numa altura em que a banca portuguesa está a restringir a concessão de crédito- devido às metas impostas pela troika e à escassez de liquidez- não é pois de admirar que a opção do arrendamento seja uma hipótese cada vez mais atractiva para as famílias portuguesas, face à compra de habitação própria. "Longe de ser uma surpresa, este comportamento dos potenciais interessados reflecte, desde logo, a deterioração sistemática que tem atingido a capacidade das famílias, mas também, uma profunda mudança da forma com estas encaram o mercado imobiliário, constatando que existem alternativas sustentáveis, mesmo que a curto e médio prazo, à habitação própria permanente", referem os responsáveis da APEMIP no estudo ontem divulgado.

O facto da banca estar a praticar ‘spreads’ muito elevados (que em média rondam os 4%) e a impor como condição de acesso a um empréstimo à habitação que os clientes apresentem rácios de financiamento/garantia baixos torna, na prática, impossível o acesso de muitas famílias ao financiamento para a compra de habitação. Os últimos números do Banco de Portugal, relativos também a Setembro, comprovam isso mesmo. Nesse mês, a banca portuguesa concedeu apenas 281 milhões de euros de crédito à habitação. Trata-se do valor mais baixo desde, pelo menos, Janeiro de 2003. Contas feitas, desde o início do ano e até Setembro, a concessão de novos créditos à habitação caiu 47%, face ao período homólogo.

As dificuldades financeiras que as famílias portuguesas enfrentam estão a levá-las não só a optar pelo arrendamento, mas mais especificamente, pelo arrendamento de habitações com valores baixos. "É uma procura que continua naturalmente concentrada em valores até aos 500 euros – representando 70,8% das pesquisas orientadas para este tipo de produto residencial-que não consegue suportar rendas muito superiores", refere a APEMIP.

Preços das casas devem continuar a cair nos próximos meses

O pessimismo e a cautela são as notas dominantes dos mediadores imobiliários para os próximos meses. "As expectativas (…) para os próximos três meses estão imbuídas de um conservadorismo de pendor pessimista aliado ao expectável comportamento decorrente das medidas de austeridade que imperam no País e que se reflectem na interacção entre os diferentes agentes económicos", assume a APEMIP. Os dados constantes no estudo da associação permitem ainda verificar que a generalidade dos mediadores espera que os preços das casas desçam ainda mais no curto prazo