Presidente da República alertou para as situações de insuficiência alimentar que começam a surgir pelo País

Presidente previne que é necessário melhorar Orçamento do Estado para “evitar custos insuportáveis” para os portugueses
O Presidente da República alertou, ontem, para as “situações de insuficiência alimentar que começam a surgir pelo País, sobretudo naquelas famílias em que tanto homem e mulher estão desempregados”. O apoio “aos mais desfavorecidos, um papel que as autarquias têm vindo a desempenhar e que é da máxima importância, é o único capaz de manter a coesão social”, tendo considerado o papel dos municípios “fundamental para atenuar os efeitos da crise para os portugueses”. Cavaco Silva insistiu na ideia de que é preciso “olhar pelos mais desfavorecidos”.

O Presidente da República, em Carregal do Sal, onde se deslocou, ontem, para presidir à cerimónia dos 175 anos do concelho, desafiou os partidos do arco parlamentar a melhorar o Orçamento do Estado, para evitar “custos insuportáveis” para os portugueses. Cavaco Silva avisou que “é preciso evitar custos insuportáveis para alguns portugueses” e considerou “da maior importância que ocorra na Assembleia da República um diálogo frutuoso, construtivo, que permita alcançar entendimentos de modo a melhorar a proposta apresentada pelo Governo”, disse.

Cavaco Silva defendeu o entendimento entre todos os partidos para “criar um ambiente social menos negativo e para que possamos ultrapassar todos os problemas que temos, em particular o desequilíbrio nas contas públicas, mas também o excesso de endividamento externo, sem custos insuportáveis para alguma parte da nossa população”, alertou. Questionado directamente sobre se a diminuição de custos sociais pode passar pelo corte de apenas um dos subsídios, Natal ou férias, – como propôs o Partido Socialista, Cavaco Silva limitou- se a reafirmar que “é preciso um Orçamento com os contributos de todos para responder com justiça aos problemas de Portugal e para que a proposta do Governo para o Orçamento do Estado possa ser melhorada”, reforçou.
Já em Nelas, onde inaugurou uma escola e visitou um lar da terceira idade, o Presidente da República haveria de retomar o tema para garantir que “só com trabalho e união os portugueses podem demonstrar às instituições internacionais que merecem uma vida melhor”.

Uma vida que só se consegue “com trabalho”. E Cavaco Silva evocou, então, o “moiral [ figura típica de Nelas que levava todos os dias os rebanhos para a serra da Estrela], que trabalhava todos os dias, fins- de- semana e feriados”, para explicar melhor a ideia.

“Não estou a dizer que os portugueses não devem ter férias, mas apenas que devem trabalhar mais”, sublinhando que “só a união de todos pode atenuar os sacrifícios que se pedem aos portugueses”. E insistiu: “É tão importante nesta fase da vida nacional preservar o espírito solidário dos portugueses e a capacidade de trabalho dos portugueses, pois só isso é que nos vai permitir vencer as dificuldades e demonstrar às instituições internacionais que nós merecemos um futuro melhor.”

E aqui o Presidente foi muito claro ao dizer que “a educação é uma das áreas onde não deve ser regateado investimento”.

O desemprego e a pobreza que preocupam o Presidente O panorama que serve de base às declarações proferidas ontem por Cavaco Silva tem números: actualmente, há 675 mil portugueses à procura de emprego e, desse universo, menos de metade ( isto é, apenas 296 mil pessoas) têm direito a receber subsídio.

Mas há ainda outros sinais de alarme, como noticiava o DN na sexta- feira. Os pedidos de ajuda às instituições de solidariedade social têm vindo a subir este ano, registando- se um acréscimo de 41% na Cáritas e de 30% na AMI. Nalguns casos, as cantinas sociais das Misericórdias registaram mesmo aumentos de 300%.
A situação actual das IPSS para responder a este crescendo de casos não podia ser pior, uma vez que o Programa Comunitário de Ajuda Alimentar para Portugal vai sofrer também um corte muito substancial, baixando dos actuais 20,5 milhões de euros para apenas 4,5 milhões – o que afecta a capacidade das instituições.

Os levantamentos que têm sido feitos sobre a realidade da pobreza em Portugal revelam outros dados preocupantes. Por exemplo, um estudo coordenado por Alfredo Bruto da Costa e publicado em 2008 mostrava que uma das causas da pobreza no nosso país são os baixos salários, pois 30% dos pobres não são inactivos – trabalham por conta de outrem.

Ainda de acordo com o mesmo estudo, 47% das famílias que foram acompanhadas, no período de 1995 a 2000 ( anos em que a economia continuava em crescimento), estiveram, pelo menos durante um ano, na situação de pobreza.