Portugal tem 1,9 milhões de pobres apesar dos apoios sociais

Aumento da emigração pode explicar melhoria de indicadores.

A taxa de pobres em Portugal depois de receberem as prestações sociais é de 18%, percentagem que aumentou ligeiramente em 2011, segundo os dados do Eurostat ontem revelados. São 1,9 milhões de pessoas, um dos indicadores que os peritos consideram aproximar- se mais da realidade. Ressalvam que o aumento é pouco significativo, mas não acreditam que o risco de pobreza tenha efetivamente diminuído como a mesma informação revela.

 Inquérito feito por organismo europeu a portugueses reporta- se ao ano de 2010
 
O Eurostat indica que, em 2011, 24,4% da população portuguesa ( 2,6 milhões) corria o risco de pobreza ou de exclusão social, percentagem que é inferior à registada em 2010 ( 25,3%), mas superior à média europeia ( 24,2%). Em termos absolutos, são menos cem cidadãos do que os contabilizados no inquérito anterior, mas para Bruto da Costa isso não significa que tenha diminuído a taxa de pobreza no País. E uma das provas é o aumento de pessoas que vivem com sérias dificuldades económicas mesmo depois de receberem subsídios, abonos e outros apoios sociais. Passou de 17,9% para 18% da população, “uma subida que não é significativa, mas que revela estabilidade”.

O ministro da Solidariedade e Segurança Social disse estar preocupado com a situação. “São números muito preocupantes mas nós sabemos que temos de atuar nesse sentido. Temos vindo a conseguir reduzir sistematicamente as taxas de pobreza em Portugal”, disse Mota Soares durante uma visita à Misericórdia de Vila Verde, segundo a agência Lusa. Entre essas medidas, referiu fonte do seu gabinete ao DN, estão a majoração do subsídio de desemprego para os casais; o aumento das pensões mínimas, sociais e rurais; a redução do período de trabalho para se ter acesso ao subsídio de desemprego e a atribuição deste subsídio aos trabalhadores independentes.
Bruto da Costa diz que a prática demonstra que houve uma redução efetiva das prestações sociais, além de sublinhar alguns erros do estudo do Eurostat. “O inquérito é de 2011, mas a pergunta é feita em relação a 2010, dependendo também da amostra. Determinados grupos, como o dos desempregados, podem estar sub- representados. Por isso é que tenho andado a dizer que estes resultados não servem para nada, uma vez que não dizem respeito apenas ao País e estamos quase em 2013”, justifica o ex- presidente do Conselho Económico Social. Acredita, ainda, que o aumento da emigração possa, também, ter contribuído para a diminuição.

Outra explicação, esta avançada pelo economista Eugénio Rosa, “é a possibilidade de existirem mais pessoas a sofrerem mais do que uma forma de pobreza e apenas estarem a ser contabilizados uma vez” ( ver alegações finais). Somar aos 18% dos que correm risco de pobreza depois das prestações sociais os 8,3% dos que sofrem sérias privações, totaliza 26,3%. Refira- se que o número dos mais pobres baixou comparativamente a 2010, mas também baixaram os rendimentos dos portugueses ( ver texto em baixo).

“O problema da pobreza tem de ser analisado no País e as comparações entre países têm de ser vistas com muito cuidado. A taxa do risco de pobreza não baixou porque a situação melhorou, mas porque piorou. São necessários outros indicadores ( grupos mais vulneráveis, idades, agregados familiares, por exemplo) para avaliar a situação. Por isso, espero pelo inquérito do Instituto Nacional de Estatística com os valores nacionais para tirar conclusões”, argumenta Bruto da Costa.