Pedidos de apoio à Cáritas crescem mais de 40% num ano

A falta de trabalho de pelo menos um dos membros do agregado familiar é a causa principal destes pedidos de socorro. Agravada por outro factor: "A maioria hesita muito em pedir ajuda, só o fazendo quando começa a ter dívidas incomportáveis", diz ao PÚBLICO Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa, instituição oficial da Igreja Católica para a acção social.

Mesmo faltando os dados de metade do país – as Cáritas das dioceses nem sempre reúnem os dados estatísticos deste tipo de serviços -, sabe-se o que leva as pessoas a procurar ajuda. Rendas ou prestações da casa, factura de água e luz, medicamentos, propinas de universidade, mensalidades de infantários ou prestações de crédito automóvel estão entre as principais despesas que os agregados familiares já não conseguem sustentar.

Os dados, recolhidos pela Cáritas Portuguesa, respeitam apenas aos atendimentos nos centros de cada uma das dioceses e não incluem as situações que aparecem nos grupos Cáritas de cada paróquia. Está incluída a diocese de Lisboa, mas não as do Porto e Braga, dois casos em que o impacto da crise e o desemprego se fazem sentir com mais severidade.

No caso de Lisboa, o aumento de pedidos de ajuda foi de 60 por cento, passando para 223 famílias. Em Aveiro (único caso onde o registo também inclui situações atendidas na rede das paróquias), passou-se de 1323 famílias atendidas para 1909 – um crescimento de 69%. Em Setúbal, o aumento foi de 49%, em Angra de 20%, no Funchal chegou aos 52%, em Santarém, Évora e Portalegre ficou pelos 30%. Neste último caso, diz Eugénio Fonseca, a Cáritas Diocesana já não responde a mais pedidos porque o dinheiro disponível "bateu no fundo".

As ajudas são financiadas por verbas das Cáritas das diferentes dioceses. Em outros casos, são apoiadas com verbas do Fundo Social Solidário (FSS), outro mecanismo de auxílio, criado há um ano pela Conferência Episcopal Portuguesa. Embora tenha gestão nacional, o fundo é administrado por cada diocese, na resposta aos casos locais. Só com verbas do FSS já foram apoiadas mais de três mil famílias.

A resposta através do fundo não é, no entanto, a de dar toda a verba de que as pessoas precisam, explica Eugénio Fonseca. A forma como o dinheiro é distribuído pelas dioceses respeita o princípio das necessidades: dá-se às que mais precisam, sendo sempre atribuída a cada diocese apenas a décima parte do que está disponível em saldo. Uma das prioridades é tentar, sempre que possível, ajudar as pessoas a criar emprego.

O fundo solidário tinha recolhido, até há poucos dias, um total de 742.119,95 euros. Dessa verba, foram distribuídos 323.342,73 euros, estando ainda disponíveis mais de 400 mil euros. Mas, desde o início, havia a consciência de que o FSS teria sempre recursos escassos. Por isso, diz Eugénio Fonseca que, para lá do que já se conseguiu, "ou os católicos geram mais comunhão interna na partilha de bens, eventualmente abandonando outros projectos, ou ficaremos apenas por resultados médios".

A necessidade de uma resposta o mais próxima possível das pessoas é uma das conclusões que o presidente da Cáritas retira da aplicação do FSS – que continua aberto a contribuições individuais, através do NIB 0033 0000 0109 0040 15012 ou nas caixas Multibanco (entidade 22 222, referência 222 222 222).

Insistindo na necessária ajuda de proximidade, a respectiva comissão episcopal propôs, na semana passada, no Encontro Nacional de Pastoral Social, em Fátima, a mobilização de todas as paróquias para o apoio das situações mais vulneráveis. A mesma preocupação está na base da convocatória de uma assembleia social, que será realizada no final de Outubro, em Fátima. O presidente da Cáritas espera que estejam representadas todas as dioceses, instituições e grupos católicos que actuam no domínio socia