Mesmo quem trabalha não escapa à pobreza

Estatística dita que 12% da população trabalhadora, em Portugal, é pobre.

A pobreza em Portugal deixou de ser vista como natural, na última década. É mais incómoda e aparenta ser um alvo a abater. Ainda assim, a realidade nua e crua dita que 12% da população que trabalha é pobre e que não basta trabalhar para escapar a ao flagelo.

"Aquela ideia de sermos pobrezinhos, mas honestos, e de aceitarmos a pobreza como uma fatalidade está a acabar. Isto representa um grande salto cultural e só com ele podemos avançar", afirma o sociólogo e professor universitário Luís Fernandes.

Avançar para medidas que travem um flagelo que é extensivo também àqueles que trabalham. Em Portugal, 18% da população enfrenta uma situação de pobreza e 12% dos trabalhadores também, ou seja, o trabalho deixou de ser receita eficaz contra a pobreza. Onde está a grande variável discriminatória? "Está na precariedade e na desregulação do trabalho. Não há contratos ou há contratos ao dia, aos cinco dias, ao mês", explicou Luís Fernandes.

No mesmo patamar, assistimos a uma mundialização do mercado que "fez entrar em competição directa economias que antes não competiam entre si. Regressaram os regimes de 12 horas laborais por dia, pelo salário mínimo", acrescentou o sociólogo. Um salário mínimo que não significa recurso para participar nos hábitos e costumes de uma sociedade que, paradoxalmente, é cada vez mais exigente.

E, ainda assim, com a desregulação do trabalho, com a sua precarização e com os salários baixos, não ficamos mais competitivos. Esta não é, portanto, a receita para um país mais produtivo e competitivo. "A pedra de toque está na qualificação, na educação. Só assim poderemos produzir, competir e crescer", disse.

Um outro factor, ainda, tem que entrar nesta equação: a distribuição da riqueza. "Nós temos um grave problema da distribuição da riqueza. São cinco milhões de população activa a produzir riqueza e como é feita essa distribuição?", questionou. Basicamente, o que isto quer dizer é que, entre outras coisas, a política dos salários baixos tem que acabar. Já assim o disse, por diversas vezes, Alfredo Bruto da Costa, ex-presidente do Conselho Económico e Social.

São necessárias medidas sociais e medidas económicas, mas, sobretudo, que todas elas sejam estruturais e não pontuais. "A pedra de toque está na Educação, na qualificação", insistiu.