Mais destruição de emprego e queda do rendimento das famílias

O Banco de Portugal ( BDP) reviu em baixa as previsões de contração do emprego para 2012. Segundo o Boletim Económico de Inverno, este ano trará umaredução de 1,8% do emprego, quase o dobro do que a instituição liderada por Carlos Costa tinha estimado há apenas três meses. No mesmo documento, o BDP prevê uma quebra de mais de 10% do rendimento das famílias.
“Relativamente ao mercado de trabalho, a atual projeção contempla uma redução do emprego de 1,8% e 0,6%, respetivamente em 2012 e 2013 ( queda de 1% em 2011), que resulta de efeitos contemporâneos e desfasados da evolução da atividade económica”, pode ler- se no documento publicado hoje. Ou seja, em três anos – 2011 a 2013 – o emprego registará um recuo total de 3,4%.
E se é verdade que a redução de emprego este ano será similar entre emprego público e privado, para 2013 o BDP prevê maior dureza na função pública. “Em 2012 a magnitude da contração do emprego será relativamente similar nos dois sectores – público e privado–, ao passo que em 2013 será mais intensa no sector público”, refere o Boletim Económico.
Recorde- se que o Memorando de entendimento assinado com a troika exige uma redução de 2% ao ano do número de funcionários públicos. Ementrevistaao DN/ Dinheirovivo, o secretário de Estado daadministração Pública já admitiu que o Governo quermenos 50 mil trabalhadores no Estado até 2015.
O Banco de Portugal prevê também uma redução de 11% do consumo privado entre 2011 e 2013, devido a “uma queda da mesma grandeza do rendimento disponível real das famílias”. Esta contração avançará“num quadro caraterizado por condições de financiamento restritivas, que dificultarão o alisamento do consumo e deverão implicar alguma restruturação dos balanços das famílias”.

FAMÍLIAS Prestação vai comer poupanças
EMPOBRECIMENTO As famílias portuguesas vão sentir um empobrecimento real “sem precedentes” nestes dois anos ( 2012 e 2013). Ironicamente, a taxa de poupança até vai aumentar, sobretudo em 2013, quando as pessoas estiverem ainda mais pobres que em 2012. É parte do efeito da amortização das dívidas ao banco. A poupança clássica ( o dinheiro na conta do banco), essa, poderá nem aumentar.
Como? A taxa de poupança é o peso do valor poupado no rendimento disponível. Apesar de haver mais incentivos a poupar ( bens e serviços muito mais caros, acesso cada vez mais difícil ao crédito, taxas de juro mais elevadas nos depósitos), o dinheiro simplesmente não irá ser suficiente.
Segundo o Banco de Portugal, para além daqueles fatores, “a subida gradual da taxa de poupança média das famílias no período 2012- 2013” acontecerá “não só devido à poupança forçada associada às amortizações do crédito, em particular à habitação, mas também por motivos de precaução”.
Portanto, pagar o que se deve ao banco é, tecnicamente, “poupança” já que abate na dívida ao banco. Os motivos de precaução referem- se à poupança clássica, em que as pessoas vão pondo de lado dinheiro para fazer frente a eventualidades futuras.
O banco central fez uma“revisão significativa em baixa do nível de rendimento permanente das famílias” explica as restantes razões. “De facto, a situação no mercado de trabalho deverá ampliar a incerteza quanto à evolução do rendimento e da riqueza futura das famílias, constituindo um travão adicional para a evolução do consumo privado.” Incerteza significa que poderá ser pior. Os riscos são descendentes para todo o cenário interno, diz o banco.
“Num contexto de manutenção de condições especialmente adversas no mercado de trabalho, em particular com um forte aumento do desemprego, perspetiva- se uma redução das remunerações reais no sector privado […], sendo particularmente acentuada em 2012.” A isto acresce o impacto violento esperado das medidas de consolidação orçamental.