Maior disparidade salarial agravada em situação de crise

Em 2009, os 20% de trabalhadores mais bem remunerados ganhavam cinco vezes mais do que os 20% mais mal pagos. Nos últimos 25 anos, refere o estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, “a distribuição do ganho salarial caracterizou- se por uma crescente assimetria” nos ganhos médio e mediano. Essa assimetria tem a ver com a qualificação dos trabalhadores – mas as das mulheres não equilibraram os sexos em termos de ordenados –, o vínculo laboral e a progressão na carreira.
“O facto de as mulheres terem maiores qualificações implicou um aumento do salário médio das mulheres, mas isso não implica que estejam a diminuir as diferenças salariais entre o mesmo grupo profissional. Antes pelo contrário”, explica o economista Carlos Farinha Rodrigues. É que elas mais dificilmente chegam ao topo da carreira, onde existem os rendimentos mais elevados.
Ainda assim, Portugal não fica mal no retrato da União Europeia. Se compararmos as desigualdades salariais entre os sexos com as que existem nos restantes países comunitários, estamos abaixo do padrão europeu. Essa comparação é feita pelo Eurostat ( ver gráfico), estatística baseada no inquérito ao emprego, ou seja, numa amostra, enquanto os estudos realizados em Portugal têm por base o quadro de pessoal, dados administrativos, explica aquele perito em desigualdades sociais.
Se tivermos em conta a remuneração- base, em 2009, as empregadas recebiam 773,50 euros mensais e os empregados 949,50 euros, ou seja, eles levavam logo à partida mais 17,8%. Em 1995 a diferença era de 23,2%.
Mas, sublinha Carlos Farinha, as disparidades entre o sexo em todos os grupos profissionais nunca são superiores a 40%, uma percentagem inferior à população ativa em geral.
E, agora com a situação de crise, como é que estarão essas diferenças? “Para já, não sabemos, desde 2009 que o Ministério do Emprego não divulga informação sobre o quadro de pessoal”, começa por criticar o economista do Instituto Superior de Economia e Gestão. O que não o impede de prever um agravamento da situação. E justifica: “Se num período em que as desigualdades familiares estavam a diminuir, as desigualdades salariais aumentaram, agora em que os cortes são sobretudo na base, é previsível que as desigualdades aumentem. Os nossos estudos demonstram que as disparidades têm vindo a aumentar devido aos ganhos salariais no topo da distribuição.”
é que se pode fazer para inverter a situação? “Era preciso repensar o nosso modelo económico e reduzir fortemente a dependência de determinados sectores da atividade dos salários baixos”, defende o economista.