Instituições sem meios para ajudar mais pobres

Acho que não temos capacidade para mais nada”, diz Lino Maia, presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade Social ( CNIS), acrescentando que foram “apanhados desprevenidos” pela decisão, ou falta dela, de Bruxelas, que fez que o orçamento total daquele programa passasse de 500 milhões de euros, este ano, para 113 no próximo. “Esta ajuda era dada às famílias e é muito grave para elas. As instituições já estão perfeitamente bloqueadas com o aumento das solicitações e a diminuição das receitas”, conclui.

A directora do departamento de acção social da AMI, Ana Martins, também não sabe como é que a instituição vai dar resposta, no próximo ano, às cerca de seis mil famílias que este ano receberam alimentos da UE através da AMI. “Os pedidos de ajuda estão a aumentar. Até ao início deste mês atendemos tanta gente como no ano passado inteiro. E, só para ter uma ideia, em 2010 distribuímos 1315 toneladas de comida. Não temos qualquer hipótese de arranjar estes alimentos”, diz.

No ano passado houve 95 mil famílias e 2572 instituições que receberam alimentos no âmbito do Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados – um total de 424 mil pessoas. A redução de 20,5 milhões de euros para 4,5 vai afectar todas estas famílias e em tempo de crise, com mais pedidos de ajuda que nunca, as instituições dizem que não têm capacidade para substituir a UE. E começam a pensar em alternativas para aumentar as receitas.
Reforçar campanhas

Ana Martins não vê grandes hipóteses para aumentar o orçamento da AMI. “Vamos ter de apelar à sociedade civil, mas a maior parte da classe média também não nos vai poder ajudar, por isso não vejo grande saída.”

A diminuição de contribuições já se notou no último peditório da Caritas, diz o presidente Eugénio Fonseca. Com um aumento de 41% nos pedidos de ajuda, relativamente a Agosto do ano anterior, a associação recolheu “apenas” 239,5 mil euros, quando o objectivo era conseguir 320 mil. “Estamos ansiosos para ver os resultados da próxima campanha, no Natal, porque muitas Caritas diocesanas estão à espera desse dinheiro para continuar as suas actividades. Se não, teremos de esperar pelo peditório público, em Março.”

Aliás, no último conselho nacional, a Caritas já admitiu que é preciso “recorrer mais ao voluntariado, particularmente ao de proximidade, e proceder a mais recolhas de donativos”. Eugénio Fonseca diz que mesmo sem a ajuda europeia a Caritas “não deixará de fazer o seu trabalho”, mas que nunca terá recursos suficientes para todos os pedidos que recebe.

Também os Bancos Alimentares contra a Fome, que recebem em média 26% dos seus alimentos através deste programa da UE – embora em algumas cidades este valor chegue aos 70% – admitem que vão tentar compensar esta perda com as recolhas já na próxima campanha nos supermercados, no final do mês ( dias 26 e 27). O objectivo é passar de 15% a 20% do total ( que inclui donativos de empresas) para 25% a 30%.