Há mais 17% de idosos a viverem sozinhos que em 2013

A operação esteve no terreno durante um mês. Entre 15 de Janeiro e 15 de Fevereiro, os militares da GNR palmilharam o país à procura de idosos a viver sozinhos e/ou isolados. Os resultados da operação Censos Sénior de 2014 já estão compilados e apontam para um aumento das situações de risco. No total, a Guarda identificou 33963 idosos vulneráveis – o que representa um aumento de 17% face ao ano passado, quando foram sinalizados 28197 casos.

A maioria das situações detectadas diz respeito a idosos a viver sozinhos. Segundo as contas da GNR, são pelo menos 21286 em todo o país. A este número junta-se os que estão isolados – em lugares ermos ou sem vizinhança. Neste âmbito, os militares sinalizaram 4281 situações. Além destes casos, há ainda os de idosos que sozinhos e isolados: este ano foram encontrados 3026. As estatísticas da GNR englobam também situações em que os velhos até nem vivem sós ou longe de tudo, mas que necessitam de apoio e acompanhamento especial. "É o caso dos que podem viver com outros idosos num prédio com várias habitações, mas que têm, por exemplo, problemas graves de mobilidade", explica ao i o major Paulo Poiares, chefe da repartição de Programas Especiais do Comando Operacional da GNR. Neste grupo estão sinalizados 5370 casos.

Apesar do aumento no número de idosos vulneráveis, as zonas do país que apresentam mais riscos mantêm-se. "São sobretudo as regiões do Interior", conta Paulo Poiares. O distrito de Viseu continua a liderar a tabela – à semelhança do ano passado -, com um total de 3745 casos, seguido por Beja, onde foram registadas 3745 situações. Seguem-se Portalegre, com 2869 idosos sinalizados, Bragança com 2791 e a Guarda com 2745.

Em 2013, na terceira edição do programa, o número de idosos detectados a viver sós ou isolados já tinha aumentado. Comparativamente com 2012, foram identificadas mais 5196 situações, o que correspondeu a um aumento de 22,6 %. O major Paulo Poiares explica que o aumento verificado, anos após ano, tem a ver com a própria implementação da operação no terreno. "Todos os anos conseguimos chegar a mais sítios e recebemos mais contactos de pessoas que conhecem situações e nos alertam", justifica. Recuando ao ano de 2011, a GNR identificou quase mais 13 mil idosos do que em 2010, passando o número final de 15 596 para 28 mil. E Viseu, Bragança (2587 casos), Guarda (2418), Évora (2373), Beja (2047) e Castelo Branco (2007) eram os distritos com mais problemas detectados.

DESERTIFICAÇÃO E ENVELHECIMENTO Mas, dizem sociólogos ouvidos pelo i , há outros factores que podem justificar o aumento de idosos a viver em situação de risco. Desde logo, adianta o investigador Manuel Villaverde Cabral, o facto de as aldeias estarem cada vez mais vazias. O último Censos, de 2011, comprova-o: mesmo que as pessoas não abandonem o Interior do país, as estatísticas mostram que tendem a concentrar-se nas sedes de concelho. "Para estarem mais perto dos serviços", justifica o sociólogo. "O que se verifica é que a certa altura não há ninguém nas aldeias para se ocupar dos mais velhos", acrescenta.

Além do problema da fuga para as cidades, há ainda a questão do envelhecimento da população portuguesa, cujo aumento tem sido uma constante ao longo das últimas décadas. "Há cada vez mais pessoas com 65 anos", confirma o major Paulo Poiares da GNR. O último Censos revelou que cerca de 19% dos residentes em Portugal tem 65 ou mais anos de idade. E o Alentejo o Centro são as regiões apontadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) como as mais envelhecidas – com uma percentagem de idosos a rondar os 24,3% e os 22,5%, respectivamente. Em 1981, e a título de comparação, só 11% da população era idosa.

O sociólogo Villaverde Cabral sublinha, por isso, a importância de "políticas de fundo e integradas" para a terceira idade. "Cada vez mais, impõe-se a existência de uma secretaria de Estado, à semelhança do que existe para a Juventude, com capacidade de integrar as políticas para essa área", defende o investigador do Instituto de Ciências Sociais, sugerindo uma articulação, no terreno, entre as várias instituições de apoio à terceira idade. "Desde as Misericórdias, passando pelas autarquias, as polícias e os bombeiros", exemplifica.

BURLAS SOBEM A percepção da GNR no terreno aponta para existência não só de mais idosos a viverem sós, mas também para um "ligeiro aumento" de crimes de burla. Só no ano passado, segundo o major Paulo Poiares, foram detectados 655 casos de burlas a maiores de 65 anos. A operação Censos da GNR também serve para sensibilizar para a necessidade de maiores cuidados.

É costume os militares deixarem panfletos com conselhos aos idosos. E, ao longo do ano, a Guarda dá pequenos cursos sobre comportamentos a adoptar – trancar portas, pedir identificação a funcionários de serviços, não ter dinheiro em casa, não transportar bens de valor na rua, entre outros. Ao longo do ano, os ficheiros de identificação dos idosos sinalizado na operação Censos Sénior são actualizados e os comandos da GNR fazem um reforço do patrulhamento nessas áreas