Em Portugal existem cerca de 2,5 milhões de idosos. Em 2060 um terço da população portuguesa será idosa.

Criar uma rede para fazer lóbi contra a discriminação dos mais velhos é a proposta de Manuel Villaverde Cabral, o director do Instituto do Envelhecimento ( IE). A ideia será apresentada hoje na divulgação de um estudo que conclui que 27% das pessoas com mais de 80 anos foram mal tratadas devido à idade. Em Portugal há mais idosos a queixarem-se de discriminação, quando nos outros países europeus são os jovens. E a crise “ vai agravar o preconceito e a discriminação”, diz o sociólogo.
“ Pretendemos usar os recursos do IE para fazer uma rede contra a discriminação de idosos, tal como existe em outros países, nomeadamente na Inglaterra. Há poucas associações no País, e as que existem são muito fragmentadas e dispersas, umas dedicam-se mais à prestação de serviços, outras, como a nossa, dedicam-se mais aos estudos. A ideia é contribuir para o desenvolvimento das políticas públicas para a Terceira Idade, desde logo a remoção da discriminação”, explicaVillaverde Cabral.
Portugal, tal como acontece em toda a Europa, é um país envelhecido, o que se reflecte sobretudo quanto a mercado de trabalho, segurança social e saúde. E, em momentos de crise económica, as pessoas tendem a ter um discurso mais negativo sobre a idade, refere o director do IE. Trabalhar mais anos até à reforma, e com isso retirar trabalho aos jovens, não trabalhar e receber durante mais tempo uma pensão são alguns dos “ preconceitos” que podem surgir. Portugal é o quarto país europeu “ a percepcionar a discriminação etária como um problema grave ou bastante grave”, segundo o IE.
O estudo das representações associadas à idade, o idadismo, é uma linha de investigação recente e, hoje, será apresentado um trabalho promovido pelo Instituto do Envelhecimento, organismo que tem o apoio da Universidade de Lisboa e da Fundação Calouste Gulbenkian. O trabalho é coordenado pela psicóloga Luísa Lima, com base nos dados da European Social Survey.
Tal como os congéneres europeus, são mais os entrevistados a dizerem-se vítimas de discriminação subtil do que flagrante, mas ela é mais frequente entre os idosos, quando nas outras sociedades europeias são os jovens. Ainda assim, a percentagem de pessoas que diz ter sido discriminada de forma subtil ( faltas de respeito) é uma das mais baixas ( 17%), o que também acontece em relação à discriminação flagrante ( 15%). As percentagens aumentam consideravelmente quando estamos a falar dos inquiridos com mais de 80, sendo que 31% denunciam faltas de respeito e 27% maus tratos.