“Desigualdade é uma escolha política”

Joseph Stiglitz tem “esperança considerável” no novo Governo de Portugal e defende aumento progressivo de impostos para as empresas.

A desigualdade e a austeridade são uma escolha política e diferentes medidas podem ser tomadas para estimular o crescimento económico e reduzir a desigualdade, defendeu esta terça-feira, em Lisboa, o prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz.
“A desigualdade é uma escolha. Não uma escolha que os pobres fazem, mas uma escolha política. É um resultado das medidas que são tomadas”, disse Joseph Stiglitz na conferência `Desigualdade num Mundo Globalizado`, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian.

Mesmo num “contexto de austeridade” na zona euro, o Nobel da Economia considerou que a austeridade também é “uma escolha” e que “há várias medidas que podem ser tomadas”, mesmo dentro desse contexto para estimular o crescimento económico.

Durante a conferência, o economista, que venceu o Nobel da Economia em 2001, destacou a redução dos salários médios entre as pessoas mais pobres dos Estados Unidos, nos últimos 60 anos, e o aumento dos recursos de 1% dos mais ricos do país, que “mais do que duplicou” nos últimos 30 anos.

Perante a crise económica mundial, o professor universitário disse ainda que as recessões económicas levaram a “brutais aumentos” na desigualdade: “Há mais desemprego, os salários são cortados e, principalmente onde a austeridade foi aplicada, há um corte nos serviços básicos, que são importantes para as pessoas com menos recursos”, afirmou.

Joseph Stiglitz afirmou ainda que “91% da recuperação económica foi para os 1% com mais recursos” e criticou as celebrações de países europeus, como Espanha, da redução das taxas de desemprego para valores ainda “inaceitáveis”.

“Estão a celebrar o fim da recessão com uma taxa de desemprego de 23% e de desemprego jovem perto de 50%. Para mim, isso é uma depressão e não um motivo de celebração”, apontou, lembrando ainda que muitos jovens emigraram, deixando de entrar nas estatísticas de desemprego.

O Nobel concluiu que houve um “aumento global da desigualdade”, que é “particularmente problemática” na Europa, e deixou uma questão: “Sabemos que a austeridade reduz a performance económica e promove a desigualdade”. .

“Mas não é economia. É política. Conseguiremos alcançar as mudanças políticas que levem a uma sociedade igualitária?”, interrogou.

Mais impostos para empresas e esperança no novo Governo

Nesta conferência na Gulbenkian, Joseph Stiglitz defendeu o aumento de impostos de forma progressiva e para as empresas portuguesas que não investem no país e considerou que há uma “esperança considerável” no novo Governo.

“Acho que há uma esperança considerável no novo Governo. Acredito que o novo Governo está a tentar descobrir como promover o crescimento económico com os constrangimentos da zona euro”, disse o Nobel da Economia aos jornalistas.

O economista norte-americano considera que Portugal deve “focar-se na estratégia de crescimento económico”, defendendo que deve ser baseada, em parte, “num aumento de impostos que não magoe a economia”.

“Acho que há margem para aumentar impostos de uma forma progressiva. Ou seja, sem magoar os mais pobres, que foi o que aconteceu no passado”, considerou o professor universitário.

Joseph Stiglitz, que venceu o Nobel da Economia em 2001, já tinha sugerido, durante a conferência, que os impostos sobre as empresas podem ser reduzidos para empresas que investissem no país e aumentados para empresas que não o fizessem.

Lembrando que alguns países avançaram com a redução dos impostos sobre as empresas durante o período de austeridade, como Portugal, o professor universitário disse que “não há provas de que leve a mais investimento”.

Admitindo que “ninguém gosta de impostos”, o Nobel da Economia disse que eles são importantes para “investir em pessoas, infraestruturas e tecnologias, o que cria oportunidades para um crescimento económico de longo prazo”.

O anterior Governo PSD/CDS-PP aprovou uma reforma do IRC que reduziu a taxa nominal deste imposto para 21% este ano e pretendia reduzi-la para 17% até 2019.