Desemprego. Pobreza agrava-se para quem tinha salários mais baixos

“A enorme crise económica e social causada pela pandemia está a atingir de uma forma desigual os próprios trabalhadores, agravando ainda mais a pobreza daqueles que recebiam baixos salários e tinham menor escolaridade e qualificação, o que não é revelado pelos números globais do emprego e do desemprego”. O alerta é dado por Eugénio Rosa, no mesmo dia em que o Eurostat revela que Portugal chegou a dezembro com uma taxa de desemprego de 6,5%, o que representa uma diminuição de duas décimas face ao registado em dezembro de 2019 (6,7%).

Estas contas não vão ao encontro das estimativas do economista, ao recordar que, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), nos primeiros seis meses do ano, a redução de empregos foi de 66 mil no país. Eugénio Rosa defende que a destruição de empregos ocupados por trabalhadores com o ensino básico atingiu 122 700, ou seja, mais 85,9% do que a registada em todo o país. “Enquanto isso se verificava com os trabalhadores com mais baixa escolaridade, a redução do emprego dos trabalhadores com o ensino secundário foi de 10 mil, tendo mesmo aumentado o emprego dos trabalhadores com ensino superior em 66 800 em plena pandemia. Somos todos iguais, mas não a nível de perda de emprego”, refere num estudo a que o i teve acesso.

Mas os alertas não ficam por aqui. Segundo o mesmo, também ao nível de profissões se verificam efeitos desiguais da crise económica e social causada pela pandemia. “Enquanto nas profissões mais qualificadas se verifica até um aumento significativo do emprego durante a própria pandemia, com o emprego a aumentar em 80 100 em apenas seis meses, em profissões como menor qualificação – como trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores –, a destruição de emprego atingiu 57 100; enquanto na de operadores de instalações e máquinas foram destruídos 33 800 empregos e na de trabalhadores não qualificados desapareceram 48 200 empregos”, salienta.

Esta situação faz soar alarmes junto do economista, que defender que “os efeitos da crise, num país cujo reduzido crescimento económico verificado nos últimos anos assentava em empregos de baixa escolaridade e qualificação, estão a ser dramáticos, como os números do INE mostram de uma forma clara, o que não é detetado pelas análises habituais dos números globais do emprego. Também em relação ao tipo de contrato que o trabalhador tem se verificam consequências diferentes causadas pela crise económica e social devido à covid-19”.

Eugénio Rosa faz as contas e garante que, num período de apenas de seis meses, o emprego a tempo completo diminuiu em 66 200, mas o dos trabalhadores com contrato sem termo aumentou em 32 mil, enquanto os com contratos a prazo se reduziu em 65 mil. “Os trabalhadores precários são, numa crise, os principais a perderem o emprego”, diz o economista, acrescentando que, no mesmo período, o “número de trabalhadores ‘subutilizados’ aumentou em 119 mil”, atingindo o total de 813 700, o que corresponde a 14,9% da população ativa do país.

“Para aumentar ainda mais a pobreza a que estão sujeitos estes 813 700 trabalhadores e suas famílias, o apoio aos desempregados em Portugal continua a ser muito reduzido. Segundo a Segurança Social, no fim do terceiro trimestre de 2020 estavam a receber o subsídio de desemprego (em média, 494,85 euros) apenas 230 303 e, em dezembro, somente 241 324, ou seja, 35,1% (apenas 35 em cada 100 trabalhadores recebiam subsídio de desemprego). Os comentários são desnecessários: é evidente que a pobreza é já enorme e está a alastrar”, conclui.