Casos de sobreendividados atingem valor recorde:Lisboa continua a ser a região responsável pelo maior nº de pedidos de ajuda

Nunca o Gabinete de Apoio ao Sobreendividado ( GAS) da Deco recebeu tantos pedidos de ajuda. Há cada vez mais famílias com dificuldades em pagar os seus empréstimos e o número de processos que deram entrada na Deco atingiu um valor recor
Até Agosto, a associação de defesa dos consumidores recebeu 2867 pedidos de ajuda de famílias em situação de sobreendividamento, ou seja, que já não conseguem fazer face às suas dívidas. Este número, em apenas oito meses, já supera o total de pedidos recebidos pela Deco no conjunto do ano passado ( 2837).
À semelhança do que tem vindo a acontecer nos meses anteriores, a principal causa das dificuldades das famílias é o desemprego ( 30%), seguida da deterioração das condições laborais ( 18,8%). “ Os cortes salariais, nomeadamente na função pública, contribuíram muito para este aumento”, explicou Natália Nunes, responsável pelo GAS da Deco.
Lisboa continua a ser a região do país responsável pelo maior número de pedidos de ajuda. Com 1069 processos em oito meses, já representa 37% do total de pedidos de ajuda a nível nacional recebidos pela associação de defesa do consumidor.
Rendimentos mais elevados
São vários os casos que chegam à Deco de famílias em situação de incumprimento. Aliás, os números de Agosto mostram mesmo que 71% das famílias, quando contactam a Deco, já se encontram em situação de incumprimento, sendo que 80% dos consumidores estão em falta com os seus pagamentos há pelo menos um mês.
Mas não são apenas as famílias com rendimentos baixos que pedem ajuda. “ Apesar de, em termos médios, quem pede ajuda ter um rendimento mensal de 1500 euros, há cada vez mais casos de famílias com rendimentos mensais de 4000 e 5000 euros”, adiantou a responsável da Deco.
As dificuldades estendem-se para lá dos créditos. “ Há cada vez mais casos de pessoas que já estão em incumprimento na factura da água, luz e gás”, acrescentou.
 

Quando as famílias chegam à Deco é porque já tentaram outras soluções. De acordo com os dados da associação, as principais razões que conduzem os consumidores a não pedirem apoio numa fase anterior são a renegociação com entidades financeiras ( 44,4%) e a expectativa e confiança na melhoria da sua situação financeira ( 34,5%). Com o aumento do desemprego, a subida do IVA, dos preços dos transportes, do gás e electricidade, a par do corte de quase 50% do subsídio de Natal, é expectável que as famílias venham a enfrentar mais dificuldades, o que se deverá traduzir num aumento dos pedidos de ajuda da Deco.
“ Isoladamente, uma só situação não levaria à ruptura dos orçamentos, mas todas as medidas em conjunto contribuem para uma deterioração das condições financeiras”, concluiu a responsável do gabinete de apoio da Deco.