Vontade de morar em Lisboa é cada vez menor
Lisboa já teve 800 mil habitantes, hoje são pouco mais de 500 mil. Um estudo encomendado pela Câmara Municipal de Lisboa à Marktest, integrado no Programa Local de Habitação (PLH), tentou perceber o porquê da "fuga" da capital e o que se podia fazer para inverter a situação.
O facto das habitações "precisarem de obras" e "serem antigas" lideram os motivos de insatisfação dos moradores de Lisboa. Fica, então, identificada uma das principais causas do êxodo de moradores na capital: o mau estado das habitações.
E se um dos objectivos do PLH é devolver habitantes à cidade, há um outro factor que se torna relevante: a maioria das pessoas que vive em Lisboa está satisfeita com a sua casa. De zero a dez a média dos inquiridos atingiu mesmo os 7,73. Porém, aquilo que mais "impressionou" a vereadora Helena Roseta foi o facto de as pessoas que moram na periferia da capital "estarem mais satisfeitas das que moram em Lisboa. É a prova que a cidade não é competitiva".
Naqueles que estão insatisfeitos há uma constante: a degradação das habitações. Destes, mais de 31 % estão insatisfeitos porque a casa "precisa de obras" aos quais se juntam mais 30 % que se queixam do facto da sua moradia ser "antiga/velha".
Perante estes dados, Roseta alerta que "a cidade está doente e precisa de ser tratada". O PLH, coordenado pela vereadora do movimento "Cidadãos por Lisboa", tem como objectivo essa cura da cidade. O programa está dividido em três fases, sendo que este estudo termina a primeira.
Por outro lado, a indignação dos moradores com a degradação dos edifícios não fica dentro das paredes da sua moradia. No ranking de "insatisfação, os "espaços degradados" ocupam um "assinalável" terceiro lugar, com 24,4 % dos inquiridos a queixarem-se deste factor, sendo que destes 47,4 % residem em Lisboa.
O mau estado dos edifícios é apenas batido pela "poluição" e pela "insegurança" que deixam insatisfeitos 40,3% e 26,9%, respectivamente.
Além da qualidade do ambiente e da insegurança, a "relação preço/qualidade das habitações" e o "estacionamento" foram factores que os lisboetas classificaram abaixo de cinco, numa escala de zero a dez.
No entender de Roseta, a degradação dos edifícios aliada à "qualidade de vida que a cidade veio perdendo" são alguns factores que fazem com que em 2001 já se contassem 40 mil edifícios devolutos em Lisboa.
Porquê viver em Lisboa?
Outro dos objectivos do estudo é tentar perceber se os habitantes que moram nos arredores de Lisboa estão dispostos a viver para a capital.
No que diz respeito ao motivo que levaria os moradores de outros concelhos da zona metropolitana de Lisboa mudarem-se para a capital, as "questões profissionais e proximidade do local de trabalho" vêm no topo da lista (27,3%). Em segundo lugar surge a diminuição do preço das habitações que chama a atenção para um outro problema da cidade: o elevado custo dos fogos.
Apesar de ter uma mostra significativa, o inquérito apenas contemplou a população entre os 18 e os 64 anos, deixando de fora uma boa parte dos habitantes de Lisboa. Helena Roseta explica que tal acontece porque a equipa do PLH "pediu que fossem identificadas as pessoas que trabalham em Lisboa e que estariam dispostas a viver na capital".
Outro dado, que podia indicar um novo êxodo para Lisboa, é o facto de 74% dos inquiridos já terem mudado de residência. Porém, a grande maioria trocou de concelho.