Ajudar filhos desempregados leva pais à ruptura financeira

Regresso de filhos desempregados a casa faz crescer número de pais em rutura financeira
Dois em cada dez casos de sobre-endividamento que começaram neste ano a ser acompanhados pelo GAS foram provocados por alterações do agregado familiar e por penhoras decretadas por tribunais devido a créditos em incumprimento. A subida destas situações foi tal que o divórcio deixou de ser a terceira maior causa de endividamento, cedendo lugar a estas duas situações.
E quando se fala em alterações do agregado familiar não se estão a incluir falecimentos de alguém ou o nascimento de mais um filho, mas sobretudo de pais, já idosos, que se veem confrontados com a necessidade de acolher nas suas casas os filhos desempregados e que já perderam ou deixaram de ter condições para manter a sua própria casa. “São pessoas que tiveram de receber os filhos e veem o seu rendimento ser afetado”, salienta Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobre–endividado.

Os dados do GAS do primeiro trimestre deste ano facultados ao Dinheiro Vivo mostram que o desemprego e a deterioração das condições de trabalho (associadas a reduções salariais e de horas extraordinárias) continuam a ser o motivo que origina mais casos de rutura, apesar de estarem a descer. Há dois anos, 35% dos processos abertos pelo GAS foram motivados pelo desemprego e 34% pela deterioração das condições laborais. Neste ano baixaram ambos para 30%.

Inversamente, as penhoras duplicaram, passando de 6% em 2013 para 12% neste ano. Ou seja, são 80 entre os 663 processos abertos entre janeiro e março. E a alteração do agregado familiar aumentou de 8% para 10%. O avolumar de dívidas por parte de pessoas que aceitaram ser fiadores de um empréstimo passou também de 2% para 3%.

A diferença entre o número de pedidos que chegam à Deco e os processos abertos deve-se ao facto de, salienta Natália Nunes, muitos recorrerem ao GAS quando já não há possibilidade de os ajudar na negociação com as instituições de crédito. Seja porque os processos estão já a correr em tribunal (o que sucedia com 26,2% das situações) seja porque se está perante uma situação próxima da insolvência (25,6%).

Estes casos extremos ganham cada vez mais peso e ajudam a explicar por que motivo, no ano passado, foram abertos perto de 800 processos, apesar de o número de pedidos (cerca de 7 mil) ter sido idêntico.

Dos pedidos deste ano, 13,1% foram feitos por desempregados, 25,2% por reformados e 41,4% por trabalhadores do setor privado. O número surpreende, mas tem uma explicação: “Trata-se de pessoas que já estiveram desempregadas e conseguiram voltar a trabalhar, mas que ganham o salário mínimo nacional”, refere Natália Nunes. Os dados comprovam que 32,5% dos que pedem ajuda ganham até 505 euros por mês e que 36,6% não vão além dos 1010 euros.