Presidente da Cáritas teme que “instabilidade política” agrave situação dos mais desfavorecidos

Eugénio Fonseca falava à agência Lusa no final da reunião da Comissão Permanente da Cáritas Portuguesa, em Fátima, que serviu para reflectir sobre temas da actualidade nacional e preparar o próximo Conselho geral, que se realiza em Abril na Figueira da Foz, bem como o dia Nacional da Caritas a 27 de Março em Santarém. 

O presidente da Cáritas revelou que os participantes na reunião não foram indiferentes à questão da moção de censura ao Governo, num contexto de que tal situação pode “gerar alguma perturbação” numa altura em que, ao nível da Europa, se decidem “coisas muito importantes” para o país e para os cidadãos. 

“Achamos que deve haver efectivamente um cuidado atento à forma como o país está a ser governado, mas deve ser evitada qualquer forma de actuação que gere instabilidade política e reflita-se nos mercados internacionais e possa tornar ainda mais complicada” a gestão da questão do desemprego e da falta de recursos. 

Eugénio Fonseca salientou que tem crescido o número de pessoas que vêm solicitar à Cáritas apoio para enfrentar a situação de carência em que se encontram. 

Segundo o presidente da Cáritas, esse crescimento resulta, por um lado, da reavaliação dos rendimentos e das regras que estão subjacentes a esses mesmos rendimentos, levando muitas pessoas a perder o subsídio social de desemprego e outras ajudas financeiras do Estado. 

Simultaneamente, observou, no campo da Educação e da Saúde começaram a sentir-se as “restrições impostas” pelo novo Orçamento de Estado. 

Eugénio Fonseca admitiu que aquela organização já não tem resposta para tantos casos de pessoas que procuram satisfazer as suas necessidades básicas, sendo também “preocupante o nível de exaustão a que estão a chegar os agentes de atendimento” da Cáritas. 

Esta exaustão, explicou, deriva do “desalento” e da enorme “pressão” a que estão sujeitos pois as carências das pessoas são desproporcionais relativamente aos meios que a Cáritas dispõe para o efeito. 

O presidente da Cáritas revelou ainda que a alteração das regras de atribuição das bolsas de estudo está também a fazer com que um “número significativo de estudantes universitários” peçam ajuda à organização para pagar as propinas. 

Por todas estas razões, o presidente da Cáritas apelou a um “pacto de regime entre as forças políticas” para que haja consenso à volta das medidas necessárias para tornar “menos gravosas as dificuldades” que muitos portugueses enfrentam.