Há menos sem-abrigo nas ruas mas 334 ainda dormem ao relento

Há 2051 pessoas identificadas como sem-abrigo, embora 1717 tenham um quarto disponibilizado por instituições para dormir.

Os sem-abrigo da cidade de Lisboa, que já tenham a situação estabilizada, vão poder receber formação em restauração num espaço da Câmara Municipal que irá abrir em 2018. No total há 2051 pessoas identificadas como sem-abrigo na capital e atualmente só menos de um quarto vive nas ruas. São 334 os que não têm um teto para dormir, contra os 629 que tinham sido detetados nos inquéritos de 2015.
Com o alargamento dos critérios, o número total de cidadãos considerados sem abrigo aumentou para 2051, com muitos, 1717, a viverem já em quartos de instituições.

O Núcleo de Planeamento, Intervenção e Acompanhamento a Sem-Abrigo (NPISA), criado em janeiro de 2015, apresentou ontem estes números e os planos para os próximos meses, em que se inclui a criação, em 2018, de um restaurante na Rua de São José para formar pessoas em condição de sem-abrigo e inseri-las no mercado de trabalho. Além disso será criado um centro ocupacional para pessoas sem-abrigo, diurno. Segundo o diagnóstico realizado entre janeiro e maio deste ano, através de questionários feitos pelos 31 gestores de caso existentes em Lisboa, existem 2051 pessoas nesta situação em Lisboa, das quais 85% são homens.

O restaurante na Rua de São José para formar e colocar no mercado de trabalho pessoas em condição de sem-abrigo é um dos principais projetos no NPISA para o próximo ano. O projeto destina-se a sem-abrigo “que tenham a situação já estabilizada, recuperada”, explicou ontem o vereador dos Direitos Sociais da autarquia, João Afonso. Envolve a criação de um restaurante comum, com “um cardápio”, mas no qual as pessoas a atender “tiveram uma história de rua ou de dependência”, explicou o o autarca à Lusa, à margem da apresentação pública das atividades do NPISA, na sede da Associação dos Albergues Noturnos. “Lá atrás, estará alguém que orienta todo o serviço de mesa e de cozinha”, contando com “o apoio das outras pessoas que estarão a receber formação”, precisou o vereador.
Emprego na restauração

João Afonso considera que a área da restauração é “uma das maiores áreas de empregabilidade na cidade” e nessa perspetiva indicou que o objetivo é que estes sem-abrigo consigam empregos em restaurantes e empresas de catering, com as quais a Câmara de Lisboa vai fazer parcerias, concretizando este projeto “Restaura-te”. O financiamento do projeto é algo que fica ainda por esclarecer. João Afonso garantiu que estará a funcionar “o mais depressa possível”, o que estimou ser no próximo ano. O espaço situa-se na Rua de São José, “que já está infraestruturado”, e que será reabilitado pela Câmara de Lisboa.

No plano de atividades, o NPISA prevê também a criação de outras respostas de inserção diurna, como a criação de um centro ocupacional para pessoas sem-abrigo. João Afonso apontou que este novo espaço está preparado: “Tem de tudo – acompanhamento psicológico, ocupação do dia, programas de capitação social e profissional -, e a ideia é assegurar a integração de 125 pessoas.”

Trabalho de 25 parceiros

O NPISA é composto pela comissão tripartida da Rede Social de Lisboa (Câmara Municipal, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e Segurança Social) e instituições de solidariedade, num total de 25 parceiros. Os parceiros alocam recursos, nomeadamente humanos (que funcionam como gestores de casos), e dão respostas ao nível do atendimento, da atuação e do acolhimento. Atualmente existem 31 gestores de caso, isto é, profissionais que trabalham com a população sem-abrigo. Estão distribuídos por cinco áreas de Lisboa.

Foram estes gestores que fizeram o diagnóstico mais recente, entre janeiro e maio. Das 2051 pessoas sem abrigo, 334 vivem nas ruas (essencialmente no centro e zona histórica) ou em abrigos de emergência e 1717 residem em alojamentos temporários (como quartos, centros de acolhimento ou apartamentos partilhados).

Em 2015, quando o NPISA foi criado, eram 1982 pessoas em condição de sem-abrigo e 629 viviam nas ruas. João Afonso vincou que estão a “ser dadas melhores respostas”, o que levou à diminuição do número de sem-abrigo nas ruas. Ainda assim, o vereador admitiu que “as pessoas terão sempre problemas – no emprego, com a família, de dependências, e, por isso, haverá sempre pessoas em situação de sem-abrigo”.