Fome São já 314 mil as pessoas que subsistem com ajuda dos bancos alimentares

Isabel Jonet diz que há “carências gravíssimas” no país. “Numa fase socialmente muito difícil” a primeira campanha de recolha de alimentos do ano inspira-se nas redes sociais
 
Em pouco mais de um ano, o número de pessoas que comem com a ajuda dos 19 bancos alimentares que existem no país passou de 272 mil para quase 314 mil – mais 42 mil benefi ciários. Uma parte do que recebem provém das duas campanhas anuais feitas pela Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome. A primeira de 2011 acontece no próximo fi m-de-semana. E, desta vez, tem uma novidade: são se limita aos supermercados; saltou para a Internet.
Será preciso pouco mais do que um clique para fazer chegar azeite, atum, leite, óleo, açúcar e salsichas aos cabazes que regularmente são entregues às famílias pobres. O projecto, que segundo a Microsoft Portugal, é inédito no mundo, será apresentado hoje, em Lisboa, pela Microsoft e a Link Consulting.
E Maria Cavaco Silva será a primeira doadora online.
Tal como é habitual, a campanha de recolha de alimentos deste fi mde- semana acontece em superfícies
comerciais de todo o país, envolvendo mais de 31 mil voluntários. Os bens angariados são posteriormente entregues a cerca de duas mil instituições que asseguram o acompanhamento das famílias carenciadas. Desta vez, contudo, e até dia 5 de Junho, será ainda possível doar através do www.alimentestaideia.net, o portal online especialmente concebido para se tornar no novo canal de recolha de alimentos dos bancos.
Messenger, Facebook e Hotmail serão palco, nos próximos dias, de uma grande campanha de marketing da Microsoft.
Os seus utilizadores darão de caras com banners interactivos com a imagem da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome. E se clicarem serão reencaminhados para o portal – que pode ainda ser acedido através de uma aplicação móvel disponível para plataformas Android, iPhone e Windows Phone.
Escolhidos os produtos, o pagamento é feito através de homebanking ou numa caixa de Multibanco, usando a referência e código atribuído. Tal como acontece no Facebook – ou não fossem as redes sociais a grande inspiração do projecto – , no fi nal, o internauta pode deixar a sua fotografi a, que aparecerá publicamente mal o pagamento dos alimentos seja efectivado.
Depois da campanha, a compra online é desactivada (para voltar na próxima campanha nacional, em Novembro), mas mantém-se a comunidade – que poderá acompanhar o impacto que os seus bens alimentares que “não têm uma refeição completa por dia” e “miúdos que só têm o que comem na creche e nos ateliers de tempos livres”.
Nem todas as pessoas que precisarão de apoio estarão cobertas pela rede de bancos alimentares, que foi crescendo ao longo dos anos (o de Beja, por exemplo, acaba de ser inaugurado).
“Toda a população pobre da área de Lisboa, da Grande Lisboa, pode ser encaminhada para uma instituição que recebe do banco alimentar”, mas noutros bancos alimentares do país, há instituições em lista de espera, o que também signifi ca que há famílias à espera.
 
Uma das razões é esta: “Se em Lisboa e Porto há muitas empresas onde diariamente vamos buscar excedentes, a maior parte do país está esvaziado de produção e portanto muitos bancos alimentares, mais pequenos, vivem só das campanhas de recolha nos supermercados.” Também tem meios distintos, continua, um banco como o de Portalegre, que pode fazer campanha de recolha “em três supermercados”
ou o de Lisboa, que faz em mais de 180. E, no entanto, “um pobre em Portalegre não é diferente de um
pobre em Lisboa”. Por fi m, há instituições que, apesar dos pedidos de ajuda diários, não têm
meios humanos para fazer o acompanhamento das famílias – nestes casos a política da federação é que não se deve distribuir alimentos, se não se trabalha outros níveis de integração dos agregados.
Convicta de que a próxima campanha é fundamental “numa fase socialmente muito difícil para o país”,
crê que uma vez mais os portugueses serão generosos. Mas admite que anda “angustiada”. “O mais difícil vai ser depois do Verão; muitas empresas já não vão abrir e acho que vai haver uma coisa terrível que é o pequeno comércio fechar. Há muitos pequenos empresários em nome individual, mais velhos, que vão ser muito, muito afectados. Se fecham o negócio, não têm nada, nem têm subsídio de desemprego.” estão a ter. “Contamos para isso com as estatísticas fornecidas pelos bancos alimentares, que vamos colocando no portal. Por exemplo, quantos quilos de alimentos são canalizados para cada um dos 19 bancos que existem no país?”, explica Patrícia Fernandes, relações públicas da Microsoft.
Para além disso será possível ver, em tempo real, que alimentos foram já angariados.
“Isto envolve tecnologia muito complexa, mas é de muito fácil utilização. E tudo foi desenvolvido em Portugal”, sublinha. “O que queremos é aproximar o mundo virtual do real. E a coisa mais real de todas é a mais primária de todas: a necessidade de comer”, explica, por seu lado, Isabel Jonet, presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome. Esta é também uma forma de cativar doadores jovens, que podem não ter meios para doar muita coisa mas podem ter vontade. “É deixar sementes de cidadania.
Estes jovens que forem agora solidários não se esquecem da solidariedade, quando forem adultos.”