Em Lisboa, pessoas com 75 anos ou mais têm menos visitas, não saem de casa e têm casas mais degradadas

As pessoas com 85 ou mais anos são quase 200 mil em Portugal, quatro vezes mais do que há 40 anos. Mas foi sobretudo a partir da década de 1990 que o peso deste grupo etário aumentou, sendo que tem proporção cada vez maior na população portuguesa. E “ quanto mais velhos mais isolados estão”, revelam os estudos.

O envelhecimento da população portuguesa segue o da generalidade da Europa, mas como o País está entre aqueles que têm um índice de fecundidade menor ( 1,3 crianças por mulher) acaba por ser um dos mais envelhecidos. O aumento de habitantes deve-se à imigração. Os idosos representam 17,5% dos residentes ( 10 655 656, as projecções para 2010), 118 idosos por cada cem jovens. O Japão é o mais envelhecido, com 22,6% dos habitantes com 65 e mais.

Estudos realizados pelo Instituto do Envelhecimento indicam que dois em cada três portugueses entre os 65 e 74 anos se sentem sós, proporção que aumenta para três em quatro quando têm 75 e mais anos. Além das pessoas viverem sozinhas, tendem a fechar-se em casa com o aumento da idade. Um dos trabalhos que estão a desenvolver intitula-se “ Processos de envelhecimento em Portugal: usos do tempo, redes sociais e condições de vida”.

“ Dada a falta de uma política integrada para um envelhecimento tão acentuado como é o português, é importante dotar as políticas públicas de informação e instrumentos que permitam ajudar a resolver ou a contrariar de alguma forma muitos dos problemas que resultam do envelhecimento da população. Este fenómeno afigura-se de facto, não só em Portugal como em boa parte do mundo, como um dos problemas centrais do século XXI”, sublinha Pedro Alcântara da Silva, um dos autores.

O sociólogo acrescenta que “ o risco de isolamento é mais frequente no meio urbano do que no meio rural, onde existe maior proximidade e toda a gente se conhece, com uma integração mais sólida e visível, onde existe maior controlo social espontâneo”.

Os velhos de Lisboa

Um estudo sobre a população de Lisboa, uma das mais envelhecidas do País, em fase de finalização, indica que 36,6% dos agregados são constituídos por pessoas com mais de 65 anos. E em 15,9% das situações vivem sós. O trabalho, da autoria de Manuel Villaverde Cabral ( director do Instituto), Pedro Alcântara da Silva e Mariana Ferreira de Almeida, serviu-se de uma série de indicadores para avaliar o grau de isolamento dessas pessoas. Não só da família como da envolvente.

Fazer compras, passear, visitar amigos, participar em actividades físicas e de voluntariado são actividades que se vão perdendo ao mesmo ritmo que se avança na idade. Trinta e um por cento dos inquiridos a partir dos 75 anos não frequentam o comércio local e 19,9% não estão com a família e amigos.

O isolamento dos mais velhos fica, também, a dever-se às condições de habitabilidade. É que apesar das condições habitacionais da grande maioria dos residentes em Lisboa estar em perfeito ou bom estado, ou a necessitar de pequenas obras de reparação ( 48,6% e 27,6% respectivamente), a incidência de maiores de 50 anos a morarem em casas com algum tipo de degradação é bastante mais assinalável. “ Sobretudo entre idosos com mais de 75 anos que vivem em habitações que necessitam de grandes obras de reparação, datadas, em particular, de antes da década de 1960. São casas de rendas baratas, e os proprietários não investem por falta de retorno”, conclui