Valores das rendas disparam 20% em Lisboa e no Porto

Falta de casas para arrendamento impulsiona subida de preços e é cada vez mais reduzido o tempo entre a saída de um inquilino e a entrada de um novo.
No mercado do arrendamento há um antes e um depois de 2015. Este ano marca o arranque de um ciclo de subidas homólogas nos preços das rendas que, no caso do Porto, se traduziram num aumento de 20% nos primeiros três meses deste ano. Trata-se da maior subida dos últimos sete anos, bem acima dos 13% a nível nacional e que coloca a cidade nortenha no mesmo patamar de subidas de Lisboa.

Apesar desta inflação nas rendas, é cada vez mais pequeno o tempo que os senhorios esperam para ter um novo inquilino. Quando a crise bateu à porta e os bancos fecharam a torneira do crédito, viver numa casa arrendada começou a ser uma opção. O mercado ganhou dinamismo mas, mesmo assim, segundo mostram os dados da Confidencial Imobiliário facultados ao DN/Dinheiro Vivo, em 2013 um proprietário do Porto esperava em média cinco meses até conseguir encontrar um inquilino e em Lisboa ou Sintra eram necessários três meses. Agora esperam bastante menos e há situações em que as casas nem chegam aos sites ou ficam lá menos de 48 horas.

Em média, nos primeiros três meses deste ano, as casas ficaram “vagas” menos de dois meses. Este prazo médio, medido pelo Sistema de Informação Residencial da Ci, é semelhante quer se trate de Lisboa ou Porto ou das periferias como Matosinhos, Maia, Amadora ou Oeiras.
Quem está no terreno vive esta rapidez medida pela estatística a um ritmo ainda mais intenso. Carlos Martins sabe bem como o mercado mudou. Há cinco anos passou a ter a seu cargo a gestão das rendas dos vários imóveis detidos pela família. “Há cerca de três anos precisei de uns cinco meses e várias visitas para encontrar um inquilino para um apartamento (T2) que temos em Queluz. Agora, temos outro, no mesmo local, para arrendar”, conta. O tamanho das casas é semelhante, a grande diferença é que, desta vez, o apartamento ainda está em obras “e já tenho várias pessoas interessadas em ficar com ele.” O preço também é diferente: há três anos pediu 350 euros, agora vai pedir 550 euros.

Esta é também a experiência que está a viver com um outro apartamento, um T3 na Graça (Lisboa). A renda vai rondar os mil euros e “neste momento já tenho vários interessados que reúnem todas as condições que pedimos”, refere.

Muita procura, pouca oferta
A norte, o panorama é idêntico. Filipe Balsa, da Remax Pro, assiste diariamente a este desequilíbrio entre oferta e procura. E dá como exemplo o caso recentíssimo de uma pessoa de Lisboa que lhe ligou no dia em que um T1 na zona do Bonfim tinha entrado no site da imobiliária. “Procurava uma casa para a filha que vem para o Porto estudar e ficou com o apartamento sem sequer o ver”, referiu ao DN/Dinheiro Vivo, acentuando que, neste momento, há casas que se arrendam em menos de 48 horas.

“A procura é de tal forma que tenho pessoas a ligar para perguntar se os proprietários das casas que tenho para venda não querem arrendá-las. E dizem que pagam seis ou 12 meses de renda adiantados”, precisa.

Luís Costa está a viver uma realidade que também ilustra bem a situação que o mercado atravessa. Tem um T2 que ficou vago na sequência de uma ação de despejo – “o inquilino esteve lá dois anos, a renda eram 250 euros mas ficou a dever 12 meses” – na Póvoa de Santo Adrião e o telemóvel não para de tocar. “São vizinhos que sabem que a casa vai vagar e que me ligam a dizer que conhecem quem quer arrendá-la”, diz.

Esta pressa – causada sobretudo pela incapacidade de os imóveis disponíveis darem resposta à procura – tem puxado os preços para valores pouco habituais por terras lusas, como mostram os dados do Índice de Rendas relativos ao primeiro trimestre deste ano que foram adiantados ao DN/Dinheiro Vivo.

Entre janeiro e março de 2018, aquele Índice dava conta de uma variação homóloga nos preços de 13%, sendo esta a maior subida a nível nacional desde 2014. Para este resultado foi essencial o comportamento do mercado do Porto, que registou o aumento mais elevado dos últimos sete anos (20%) e que traduz um aumento de quatro pontos percentuais face à evolução observada no fecho de 2017.

A tendência de subida homóloga no Porto arrancou em 2015 e a cidade conta já com três trimestres em que as rendas crescem a dois dígitos em termos homólogos. Em Lisboa, os aumentos a dois dígitos começaram em 2016, baterem um máximo (22%) no início de 2017 e agora somam dois trimestres consecutivos a registar uma variação trimestral homóloga na casa dos 20%.