Pobreza nas crianças revela o pior de Portugal

 

No Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, professor Carlos Farinha Rodrigues sublinha que o ponto essencial do combate à pobreza no país tem de começar por medidas para as crianças.
Os anos de crise fizeram disparar os números da pobreza em Portugal. Só em 2014, os indicadores começaram em melhorar. Nos últimos três anos, a recuperação económica, a diminuição do desemprego e a reposição de rendimentos contribuíram para números mais animadores, mas Portugal continua a ser um país com elevados níveis de pobreza e precariedade.

A Fundação Francisco Manuel dos Santos juntou dados do Instituto Nacional de Estatísticas e do Eurostat e traçou um retrato da pobreza e da exclusão social no país na página da Internet Portugal Desigual .

A tendência é positiva, mas no ano passado mais de 2 milhões e 400 mil portugueses continuavam em situação de pobreza ou exclusão social, o que representa cerca de 23% da população.

Os dados mostram que o rendimento mensal por adulto dos portugueses ronda os 900 euros, cerca de metade da média da União Europeia, que é de 1500 euros.

Os números provam ainda que as famílias com crianças são mais pobres. No caso de três ou mais filhos, a taxa de pobreza é superior a 40%.
Nas famílias monoparentais, chega aos 33%.

Quanto à condição de trabalho, os desempregados continuam a ser o grupo mais vulnerável à pobreza, mas mais de 10% da população empregada está na mesma situação.

Outro indicador é a privação material, que está relacionado com os bens a que as pessoas não têm acesso. Os número têm melhorado, mas mais de um terço dos portugueses ainda não consegue suportar o pagamento de uma despesa de 450 euros sem recorrer a um empréstimo, 20% da população não tem capacidade para manter a casa suficientemente aquecida, 8% não consegue pagar a tempo a renda ou outras despesas correntes e mais de 40% dos portugueses não consegue pagar uma semana de férias por ano.
Portugal Desigual é um projeto da autoria do economista e professor Carlos Farinha Rodrigues, um dos coordenadores científicos do Observatório das Desigualdades do CIES-IUL.

“Durante a crise tivemos um fortíssimo agravamento das crianças em situação de pobreza, este é o principal aspeto da pobreza em Portugal, porque é um aspeto que tem a ver com o presente, mas que tem repercussões no futuro”, o que leva o especialista a pedir “medidas concretas” para travar este flagelo.

Na opinião do professor, em Portugal sempre existiu uma “dificuldade enorme” de ter “medidas efetivas de combate às crianças em situação de pobreza”, por não ter apenas a ver com os jovens, mas também com as famílias. Como tal, são necessárias medidas “destinadas às crianças” no setor da saúde, da edução, com o acompanhamento de situações com problemas, mas também com “os recursos das famílias onde estas crianças estão”.

“Eu diria que a primeira linha de ação para reduzir a pobreza em Portugal que é tratar de forma consistente e sustentada o problema das crianças em situação de pobreza”, conclui.