Lisboa está a recuperar mas em 2017 ainda não tinha superado níveis da crise

Lisboa está a recuperar mas em 2017 ainda não tinha superado níveis da crise – Observatório
Lisboa, 16 mai 2019 (Lusa) — Lisboa ainda não tinha recuperado, em 2017, até aos níveis anteriores à crise económica, apesar de ter indicadores com melhor desempenho, nomeadamente na demografia, desemprego e educação, segundo um “Retrato de Lisboa” apresentado hoje.
s dados, coligidos pelo Observatório de Luta contra a Pobreza na cidade de Lisboa, referem os mais recentes indicadores disponíveis, muitos deles com alguns anos e outros do final de 2017, caracterizando a capital nas dimensões de Demografia, (Des)Emprego, Habitação e Educação.

O “Retrato de Lisboa”, a partir de fontes como o INE, os censos, departamentos do Governo, Câmara Municipal e outras entidades oficiais, foi hoje apresentado no encontro “Lisboa em números. Democratizar a informação, contribuir para a definição de políticas públicas”, nos Paços do Concelho.

Segundo o Observatório, Lisboa caracteriza-se por ser uma cidade com “ligeiros sinais de rejuvenescimento”, onde os habitantes “têm uma progressiva descida de rendimentos desde 2013”, sendo que, segundo os dados de 2017, “os rendimentos continuam a descer”, apesar da alegada recuperação económica.

Apesar de uma tendência de recuperação desde 2015, em 2017 a cidade teve “níveis mais elevados de desemprego do que em 2008”, ano considerado como marco histórico da crise, salientou a socióloga do Observatório, Catarina Cruz.

No âmbito da Demografia, os dados recolhidos demonstram que a perda de população desacelerou progressivamente em Lisboa desde o início do século, com “ligeiros sinais de rejuvenescimento” e aumento da população estrangeira.

A população residente diminuiu 3% entre 2001 e 2011 e estimativas do INE preveem que tenha diminuído de 547,7 mil em 2001 para 504,9 mil em 2016.

Em termos de educação, ainda há discrepâncias entre uma “população muito qualificada ao nível do ensino superior”, melhor face ao país, mas, por outro lado, “uma percentagem significativa da população em idade ativa com baixas qualificações”.

A nível escolar, menos de 1/3 da oferta dos equipamentos é pública, e apenas no 3º ciclo do ensino básico a oferta de escolas públicas é maior do que a privada.

A rede destaca ainda as crescentes e cada vez mais prementes necessidades de habitação na cidade, a degradação e a sobrelotação das habitações, devido a uma pressão imobiliária para a qual contribuem fatores como a gentrificação e ‘turistificação’, a entrada em vigor do novo regime de arrendamento urbano e os investimentos estrangeiros motivados pelos benefícios fiscais.

A habitação familiar mais frequente no concelho tem entre 60 e 79 metros quadrados e, no final de 2017, o seu valor mediano de venda tinha aumentado 30,1% em relação ao início do ano anterior, aumentando de 1.875 euros para 2.438 euros o valor do metro quadrado, segundo dados oficiais.

Em termos de arrendamento, oficialmente foram 6.980 os novos contratos celebrados em 2017, com valores que variam entre os 577,2 euros para casas com 60 metros quadrados e de 760 euros para casas com 79 metros quadrados.

“Quem procura casa, percebe que o valor é muito maior. Estes valores são os oficiais, mas a realidade diz-nos outra coisa”, disse Catarina Cruz.

Em 2017, “aumentaram exponencialmente os candidatos a programa de Renda Convencionada”, o que “demonstra que as pessoas estão a ter grandes dificuldades em conseguir uma casa no mercado livre”, salientou.

Foram 39.024 as candidaturas a este programa em 2017, quando no ano anterior tinham ocorrido 17.158 e no início do programa, em 2013, tinham sido 690.

Em 2016, a habitação municipal gerida pela Gebalis, em 67 bairros, tinha 58.218 residentes, representando 22.520 alojamentos (7,0% dos alojamentos da cidade), e uma renda média de 83,54 euros).