É cada vez mais difícil sair da pobreza. Portugal tem o elevador social estragado?

“Quem está em baixo tem menos hipóteses de subir e que quem está no topo tem ainda menos hipóteses de descer”.
Um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) conclui que Portugal é dos países desenvolvidos onde é mais difícil sair da pobreza ou, do outro lado, deixar de ser rico.

As desigualdades e a forma como estas se reproduzem ao longo de gerações não é, contudo, um exclusivo português. O relatório da OCDE tem aliás um título ilustrativo daquilo que se passa em muitos países: “Um elevador social estragado? Como promover a mobilidade social”.

Em média, quando sobe, uma família portuguesa de rendimentos baixos demora cinco gerações a chegar a um rendimento médio. O número fica acima da média dos países desenvolvidos.

Muitos filhos de pais com rendimentos baixos até conseguem ganhar mais que os progenitores, mas há uma grande tendência para os filhos terem o mesmo tipo de trabalhos dos pais: por exemplo, se os pais forem trabalhadores manuais ou gestores, os filhos tendem a fazer o mesmo, numa tendência mais forte que no resto da OCDE.

Os portugueses apresentam mesmo o mais baixo nível de mobilidade educacional, ou seja, pais com baixas ou altas qualificações tendem a ter filhos com a mesma formação escolar.

‘Colados’ à pobreza?

Além da comparação entre gerações, o estudo também olha para as hipóteses que cada um tem de sair da pobreza ou da riqueza (baixos ou altos rendimentos) ao longo da vida e aí Portugal destaca-se como tendo uma “mobilidade limitada”.

Na década de 1990 cerca de 57,6% dos portugueses mais pobres continuavam na mesma quatro anos depois, número que subiu para 67,1% na primeira metade desta década, num dos valores mais elevados entre os vários países analisados.

Do outro lado, no topo dos rendimentos também há uma forte tendência para aquilo a que a OCDE chama de “cola” social.
O relatório conclui que em países como o Canadá, Finlândia, Itália e Portugal existe, desde a década de 1990, uma “tendência geral para a persistência das pessoas na base ou no topo dos escalões de rendimentos”.

Na prática, apesar do aumento geral das desigualdades em vários países, “isto significa que quem está na base tem menos hipóteses de subir e que quem está no topo tem ainda menos hipóteses de descer”.

Portugal apresenta ainda sinais de uma divisão cada vez mais profunda entre as classes média-baixa e média-alta, havendo mais hipóteses, para quem está na classe média, de cair do que de subir na escala de rendimentos.