Lisboa vai crescer para o oriente e já se fala em casas mais baratas

 

Especialistas em imobiliário tentam já adivinhar para onde irá expandir-se a cidade e a preços mais acessíveis. O eixo da Avenida Almirante Reis, o Beato e Marvila, podem ser o novo polo de interesse
centro da cidade de Lisboa está consolidado e, de certa forma, começa a ficar esgotado para o mercado imobiliário. Por outro lado, os elevados preços da habitação estão a impedir muitas pessoas de ali se instalarem.

A pergunta que se impõe é muito simples: para quando (e onde) uma Lisboa acessível a todos?

Com o eixo central da cidade fora de questão, as atenções viram-se agora para toda a área da Avenida Almirante Reis e demais bairros da zona oriental da cidade, como Marvila e Beato e Vale de Santo António, entre outros.

“Esta zona, apesar de se encontrar ainda numa fase precoce do seu desenvolvimento, tem um forte potencial para se transformar num novo polo de atração urbana da cidade, tanto na vertente habitacional como de escritórios e retalho, aproveitando a proximidade do rio e o ambiente artístico e cultural que tem vindo a surgir nos anos mais recentes”, nota Ricardo Reis, responsável pelo grupo City Thinkers (Pensadores da Cidade) da consultora Cushman & Wakefield (C&W).

ESPAÇO PÚBLICO E MOBILIDADE SÃO ESSENCIAIS
Há, no entanto, dois fatores que serão estruturantes na estratégia de crescimento que aquela consultora prevê para a zona oriental: um especial cuidado com a qualidade do espaço público e, por outro lado, uma forte aposta na mobilidade. Se isto não for levado a sério a zona oriental pode ser um falhanço, nota Ricardo Reis, lembrando, por exemplo, que o metro ainda não chega ao Beato.

A equipa dos City Thinkers selecionou a Avenida Almirante Reis como primeira zona a estudar, uma vez que o eixo por ela definido possui a maior área de equipamentos da cidade, tendo grande parte deles já agendada a respetiva reconversão.

A desativação eventual ou programada de equipamentos como o Hospital de São José, o Hospital Miguel Bombarda, a Academia Militar, o Hospital D. Estefânia, o Edifício dos CTT na Rua da Palma ou o Hospital do Desterro “são sinais da profunda transformação que esta zona está a atravessar”, pode ler-se nas conclusões daquele grupo de trabalho.

Destacam-se também o desenvolvimento de “novos e impactantes” projetos culturais, urbanos e de promoção, como são a mesquita ismaelita, a reabilitação do quarteirão da Portugália, a Parada do Alto de São João, a Praça do Chile ou o Largo do Intendente. “Todos estes projetos são uma confirmação da profunda atenção que esta zona da cidade tem tido por parte de entidades públicas, promotores, investidores ou mesmo residentes”, sublinham os analistas da C&W.

Ricardo Reis lembra que, além da zona oriental de Lisboa, claramente impulsionada também pelo Hub Criativo do Beato, há outras partes da cidade onde ainda pode vir a haver algum crescimento, embora não tão acentuado. É o caso da Praça de Espanha, para o sector terciário e de serviços, ou ainda a Alta de Lisboa, sobretudo para habitação e, aqui sim, já com a integração de várias classes sociais no mesmo perímetro residencial.

MISTURA DE CLASSES SOCIAIS
“A construção de casas para diferentes classes sociais na mesma zona já é prática corrente noutros países europeus; não vejo razão nenhuma para que isso não se possa passar também em Portugal”, acrescenta aquele responsável da C&W.

Na margem sul do Tejo há também uma zona que, segundo Ricardo Reis, não se deve perder de vista: a chamada Cidade da Água, prevista para a zona onde até aos anos 80 funcionaram os estaleiros da Lisnave. Aquele analista garante que se trata de uma localização única, com uma vista privilegiada sobre Lisboa e que está abandonado há vários anos sem que ninguém consiga explicar porquê.