Crianças do Sul da Europa ainda estão mais pobres do que antes da crise

 

Olhando apenas para os quatro países mais atingidos pela crise nota-se “um aumento muito maior” da pobreza e da exclusão
As consequências da crise financeira e económica perduram no espaço comunitário. O risco de pobreza ou exclusão social das crianças ainda é maior no Sul da Europa do que em 2008. Atinge uma em cada três, afirma o relatório da Fundação Bertelsmann. No total da União Europeia, a proporção é de uma em cada quatro.

“A Europa está a recuperar de forma gradual”, apontam os autores do índice de justiça social com que a Fundação Bertelsmann mede as oportunidades nos 28 Estados-membros. Todavia, “as crianças e os jovens em particular estão a lucrar muito pouco com a recuperação económica”, avisam os investigadores. “Especialmente nos países atingidos pela crise no Sul da Europa, a percentagem de jovens ameaçados pela pobreza ou pela exclusão social continua elevada.”

Portugal ocupa o 21.º lugar na tabela de oportunidades para crianças e jovens, um indicador que tem em conta a taxa de risco de pobreza ou exclusão social, mas também a influência do contexto socioeconómico no sucesso escolar, o abandono escolar precoce, a proporção de jovens que não estudam nem trabalham. Pior, só a Eslováquia, a Grécia, a Itália, a Hungria, a Espanha, a Bulgária e a Roménia. Na linha da frente, a Suécia, a Holanda, a Finlândia e a Dinamarca.

Os vários indicadores constam do relatório, que esta segunda-feira ficou disponível da página electrónica da Fundação Bertelsmann. Remetam para o ano passado: “Em Espanha, 34,4% das crianças estão em risco de pobreza e exclusão social. Em Portugal o valor é de 29,6%. Em Itália, de 33,5%. Na Grécia, de 37,8%.”

A Leste é pior, dir-se-á. É verdade, mas já era assim antes da crise financeira e económica. “Na Hungria, os números são ainda preocupantes apesar de uma recente tendência claramente positiva: 36,1% das crianças estão em risco da pobreza e exclusão social (embora este número não fosse tão elevado como 41,8% no ano anterior). Na Roménia (46,8%) e na Bulgária (43,7%) a taxa continua a ser muito elevada, embora também haja uma tendência decrescente. O mau desempenho do Reino Unido também é surpreendente: 30,3% das pessoas com menos de 18 anos estão em risco de pobreza e exclusão social” lê-se.

A média da União Europeia andava pelos 26,9% no final de 2015, o que representava um “ligeiro aumento”. Olhando apenas para os quatro países mais atingidos pela crise, porém,nota-se “um aumento muito maior”. A taxa de pobreza e exclusão social entre crianças no conjunto de Espanha, Grécia, Portugal e Itália subiu mais de quatro valores entre 2008 e 2015: saltou de 29,1% em 2008 para 33,8% em 2015. Isto significa que havia mais um milhão (1,09 milhão) de afectadas pela pobreza e pela exclusão social do que em 2008.

A vida das crianças, é sabido, está directamente relacionada com a das suas famílias. Ora, apesar de a Europa estar a recuperar da crise económica, o risco de pobreza em geral não registou uma diminuição significativa. Um em cada quatro cidadãos da UE – 118 milhões de pessoas – continuava em risco de pobreza ou exclusão social em 2015.

O desemprego não explica tudo. “O número de pessoas empregadas é significativamente maior do que no auge da crise, em 2013. No entanto, aumentou ligeiramente a percentagem de trabalhadores a tempo inteiro que não podem viver apenas do seu trabalho”, refere o documento. A UE somava então 7,8% de trabalhadores pobres.

Focando apenas os jovens, que estão a tentar entrar no mercardo de trabalho, em matéria laboral tudo se complica. Há 4,6 milhões de desempregados entre os 15 e os 24 anos (20,4%). E esse número é bem superior nos países em crise. E “a crescente falta de perspectivas de muitos jovens dá espaço aos movimentos populistas em crescimento. Não podemos correr o risco de a juventude ficar decepcionada e frustrada com a sociedade”, avisa o presidente da fundação, Aart De Geus.